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O publicitário, professor, poeta e astrólogo Sebastião Martins Vidal.
“Para quem tem olhos de ver (e sentidos do sentir) já se percebia, no seu modo peculiar de olhar o mundo e as pessoas, o poeta que viria a ser, entre outros dons que já revelava possuir e que também desenvolveu.
Em plena efervescência do movimento Cultural Fluminense, nos anos 80, o reencontrei e reconheci, já adulto e poeta, como era de se saber e prever. E sua poesia surpreendeu e fascinou, pelo extremo vanguardismo de sua forma e conteúdo.”
Antonio Ricardo Sobral Xavier
Partiu do jardineiro-poeta Sebastião Martins Vidal a idéia de formar, em 1998, a biblioteca do antigo Cursinho do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unicamp, hoje Cooperativa do Saber. Sebastião saiu à procura de potenciais doadores, a maioria clientes, e conseguiu em suas andanças reunir um acervo de dois mil livros.
MARTINS VIDAL, Sebastião. ALGUMA POESIA. Prefácio de Luiz Américo Valadão Queiroz.
[O exemplar do livro não apresenta informações sobre o autor e sua obra...]
Exemplar na biblioteca de Antonio Miranda, doação do amigo (livreiro) BRITO (DF).
NOSTALGIA
antes de tudo —
de morrer, enfim.
dá-me a chance
de dizer com humildade e tormento
somente o óbvio
a trinca póstuma
do variado sol
estrela que não vi
perdida em tortuoso olhar
visceral, pra mim,
é a cordoalha do desejo
deixa, mais uma vez,
cometer a verve mortal.
tua presença —
cantilena moura
a dizer-me: vem
SEGREDO DE ALCOVA
estou sem segredo: acabrunhado
com vontade de descer num tenebroso elevador
ou andar a pé enxergando pernas provocantes
de muitas prostitutas
olhar sufocante
tudo, enfim, trágico
sem música na alma infame dos transeuntes
nem segredos para acalentar os tormentos
que recaem sobre minha alma|
estou intocável comportadamente melancólico
contido num mundo esquisito
de muitas alucinações
CADÊ O MORTO?
mas cadê o morto
com seu traje fúnebre
e seu pensamento distante?
um mal entendido
desfez a calmaria desperta
não teremos glória
nem a maldade
que me faz infiel
e indizível
mas cadê o morto
com seu rosto turvo
seu choro contido
sua placidez mística?
um espanto desfez
a calma desperta
dos gabinetes e ofícios do governo
foi um lavrador
com seu cajado
suas lombrigas
olhos postos no medo
numa tarde de fome
numa tarde sul américa
PARTIDA
silenciosamente,
retiro-me do quarto escuro
abro a janela: o dia explode em estrelas
lá fora, passeiam pessoas que jamais vou conhecer
vejo cada qual em seu caminho
de fato, perdi os sentidos. Há uma espiral de sonhos
por sobre a cabeça
corri sombrio gritando teu nome:
partiu com o fio do novelo posto ao vento
sumir por entre rotas e desenganos
com inconfesso desejo
de não mais voltar
*
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Página publicada em outubro de 2024
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